(…) a falta de jornaes de Lisboa que homtem aqui deviam chegar, como de costume no combio das 6.40 da tarde, levou-nos à desconfiança de que alguma coisa de anormal se passava no sul. Desconfiança essa que se tornou certeza quando os jornaes não vieram no ultimo comboio das 9 horas da noite e quando aqui se soube, por pessoas vindas do Porto, que o governador civil d’ahi não tinha comunicação oficiaes de Lisboa quer pelo telegrapho quer pelo telephone.
Em alguns centros de conserva discutiu-se bastante este assumpto, mas nunca prevendo-se os gravíssimos acontecimentos que aqui hoje foram conhecidos pelo relato dos jornaes do Porto. Affluindo à estação de comboio de ferro, ao comboio das 7.40 da manhã, centenas de pessoas, que arrancavam os jornaes à força das mãos dos vendedores.
Como sucedeu hontem o regimento d’infantaria 20 está hoje todo de prevenção.
Nem hontem nem hoje foi aqui recebida a correspondência de Lisboa.
(In Jornal de Noticias, n.º 236, diário, Porto, 6 de Outubro de 1910)
Como em quase todas as terras do país, em Guimarães também houve manifestações de regozijo pelos adeptos do novo regime.
Os republicanos têm sido correctos e bastante moderados nas suas manifestações, não havendo, no meio de tanto movimento, uma única nota discordante.
A não ser vivos comentários, discussões e manifestações, nada de anormal se tem passado em Guimarães. Algumas casas religiosas têm estado policiadas, o que a nosso ver seria desnecessário, pois cremos que os vimaranenses as respeitariam, pois que todas estão no firme propósito de respeitar e fazer respeitar a lei.
No dia 8 foi solenemente proclamada a República nesta cidade. Foi içada a bandeira na Câmara Municipal, no meio de vivas à República, ao exército, à Pátria, ao povo português, etc., etc. O largo fronteiro àquele edifício achava-se repleto de povo, bem como estacionavam ali duas bandas de música e a banda regimental que fez a devida continência à bandeira. Em seguida também foi içada a bandeira no quartel de Infantaria 20, repetindo-se as manifestações de regozijo.
Alguns dias e noites percorreu as ruas da cidade uma marcha “aux flambeaux”, vendo-se á sua frente alguns conhecidos republicanos que entusiasmados soltavam vivas e empunhavam bandeiras republicanas. Em todo o percurso houve boa ordem, debandando tudo sem incidentes. Alguns edifícios particulares hastearam bandeiras e iluminaram as suas fachadas.
(In O Comércio de Guimarães, n.º 2495, 27º ano, bissemanário, Guimarães, 11 de Outubro de 1910)